sábado, 5 de abril de 2008

Sexo casual - Elas só querem diversão

O número de mulheres que buscam o prazer pelo prazer só aumenta. cada vez menos, elas querem estabelecer compromisso. aqui elas contam suas experiências mais excitantes

A história é deliciosa. Sandra Germano (o nome é real), uma publicitária de São Paulo, 35 anos, charmosa e bonita, conta a seguinte história: “Ele não era tão bonito, mas tinha ‘pegada’ e beijava bem. Não perguntava, fazia. Transamos na cama, no chuveiro e até na varanda da pousada. Foi ótimo. Gozei muito, intenso, como há muito tempo não acontecia. Quando acordei, ele tinha ido embora. Não deu nem nome. Adorei. Prefiro mesmo não saber o nome do cara, nem ele o meu.” Hoje é assim. Amor rápido, paixão sem o menor compromisso. Há muito que as mulheres não ficam tão loucas assim em pedir telefone, endereço, CIC, RG, comprovante de residência. Nada de amarras e muito menos de sentimentos que limitem. Paixão, agora, só se for por algumas horas. É o que muitas mulheres querem. Elas estão experimentando cada vez mais aquilo que os homens sempre conheceram: o prazer pelo prazer. E elas contam, sem qualquer pudor, suas aventuras despretensiosas.

RÁPIDA, FORTE E SUADA

“Eu costumava ficar com homens por apenas uma noite. Minhas amigas achavam absurdo. Eu não ligava. Até que comecei a namorar. No começo, era especial: ele era carinhoso, experiente, beijava bem, e tinha um fôlego, um fogo... fazia de tudo pra eu gozar. Para resumir, namorei, fiquei noiva e quase casamos. A história acabou porque ele passou a transar meio que por obrigação. Descobri, também, que ele ficava com outras. Ele chegou ao extremo de flertar com a minha irmã. Separei. Um tempo depois, voltei à minha vida de antes. Transei bêbada, fiz sexo com mulher e homem ao mesmo tempo, saí até com um amigo do meu ex. A melhor foi no quarto de uma festa, num apartamento. Eu estava na varanda, sozinha, bebendo. Um cara se aproximou. Disse que era um pecado ele e eu ficarmos a sós daquele jeito. Então, ele me beijou e me levou para o quarto dos donos da festa. Loucura. Transa rapidinha, mas forte, suada. A gente nem tirou a roupa direito. Ele só abaixou meus jeans. Transamos duas vezes, uma de pé e outra na cama. No final, ele saiu, disse que tinha sido maravilhoso e voltou pra festa, sem dar maiores explicações. O melhor de transa assim é a falta de regra, a despretensão, uma coisa meio adolescente. Dá tesão só de pensar. Um dia caso, mas antes vou transar muitas vezes desse jeito – como se fosse a última vez que vou ver a pessoa. Sou uma mulher realizada desse jeito.”
Valeska, 25 anos, jornalista

“O MELHOR DE TRANSA ASSIM É A FALTA DE REGRA, A DESPRETENSÃO, UMA COISA MEIO ADOLESCENTE”
VALESKA, 25 ANOS, JORNALISTA

SEM NOME

“Eu fui casada por oito anos. Só traí quando descobri que ele começou a sair com uma amiga minha. Fiquei triste, mas era meio que previsível: a gente não se gostava mais, nem tinha aquele fogo de quando começamos a namorar. Como eu não transava, vivia mal-humorada. Me separei. Resolvi mudar a postura. Um dia, fui pra Florianópolis, fi- quei com um garoto de uns 20 anos. Ele me levou de madrugada para a pousada dele. Não era tão bonito, mas tinha ‘pegada’ e beijava bem. Não perguntava, fazia. Transamos na cama, no chuveiro e até na varanda. Acordamos a pousada toda. Foi ótimo. Gozei muito, intenso, como há muito tempo não acontecia. Quando acordei, ele tinha ido embora. Não deu nem nome. Depois pensei: foi exatamente a falta de compromisso que deu tesão na história. Tive várias transas assim. A maioria não pergunto nem o nome. Fiz sexo em motel, no capô do carro, na praia, escondido em cantos de uma festa num sítio. É uma delícia. Não sou do tipo que não quer se apaixonar mais. Até já namorei um cara nos últimos meses. Mas quero curtir sem ter obrigações. Pra que saber nome se o que busco é ter prazer, aproveitar?”
Sandra Germano, 35 anos, publicitária

GOZEI MUITO, INTENSO, COMO HÁ MUITO TEMPO NÃO ACONTECIA. QUANDO ACORDEI, ELE TINHA IDO EMBORA. NÃO DEU NEM NOME”
SANDRA, 35 ANOS, PUBLICITÁRIA

SÓ QUEREM GOZAR

MAS NÃO PENSE QUE A MULHER ESTÁ ADOTANDO UMA POSTURA MASCULINA E NEM QUE ELA ESTÁ PERDENDO O ROMANTISMO E A SENSIBILIDADE

Mulheres que transam sem compromisso parecem (ou pensam) agir como homens. Não é bem assim. “As mulheres não deveriam achar que adotam a mesma postura do homem no que diz respeito a sexo casual inconseqüente”, diz J. A. Gaiarsa, psicoterapeuta. “Mulher e homem são biologicamente diferentes. A mulher precisa inventar um novo orgasmo. Não adianta ela querer gozar como ele. O homem ejacula para a fertilização. A mulher, não”, completa. Não quer dizer que ela perdeu sua capacidade de se envolver emocionalmente. A mulher ainda é romântica e sensível, mesmo no sexo casual. Só está mais livre. Elas só querem gozar. Que gozem e sejam felizes.

NADA DE CULPA

“Há uns dois anos, disse para um amigo que invejava os homens, porque transam por transar e não estão nem aí para o que vão dizer. Ele falou que bastava fazer sem culpa. Demorei algum tempo para levar isso a sério. Numa noite em São Paulo, num pub, fiquei muito a fim de um cara que estava na minha mesa. Ele se sentou ao meu lado. Passou a mão na minha perna. Depois enfiou a mão por baixo da minha blusa. Aí saí da mesa com ele, para um canto do bar. Depois do amasso meio adolescente, fomos para o apartamento dele. Fizemos a loucura de transar antes de chegar lá – na garagem, dentro do carro. Depois, rolou na casa do cara. Dormi lá. Acordei, ele tinha feito até café da manhã. Mas eu não estava mais a fim dele. Agradeci, dei um telefone falso e fui embora. Lembro dessa noite como uma das melhores da minha vida. Já repeti isso, de sair, transar e nunca mais ver. Experimentei umas fantasias – tipo sair com amigo de ex-namorado. Agora, falta transar com dois caras de uma vez. Vou conseguir. Quero me divertir muito.”
Renata, 29 anos, advogada

“AGORA QUERO TRANSAR COM DOIS CARAS DE UMA VEZ”
RENATA, 29 ANOS, ADVOGADA

DE TIRAR O FÔLEGO

“Ninguém me ensinou a transar sem compromisso. Aprendi numa escapada do meu casamento. Era apaixonada. Mas o ciúme dele aumentou tanto que passei a fazer o que ele desconfiava – sair com outros. A primeira vez foi numa ocasião em que meu marido – hoje ex – viajou. Tinha ido jantar num restaurante perto do meu trabalho. Estava esperando uma amiga. Antes de ela chegar, um cara da mesa ao lado veio até mim. Disse uma besteira do tipo: ‘como uma mulher tão bonita está sozinha’. Fiz cara de descaso. E ele: ‘Posso melhorar a cantada conversando com você ?’ Deixei. Ele era charmoso, bom de papo. E logo eu já estava abraçada ao cara. Depois, fui com ele pra um motel. Estava excitadíssima. No motel, ele nem falava – só me puxava, me agarrava com tesão. Transas longas, de tirar fôlego. Gozei muitas vezes. Depois ele me deixou num ponto de táxi. Não me pediu pra ligar no dia seguinte. Só falou um ‘a gente se vê’. Não nos vimos. Fiquei apaixonada naquela noite – umas quatro horas, acho. Hoje, prefiro essas paixões rápidas. Uma hora vou amar alguém. Não é prioridade.”
Alessandra, 31 anos, analista financeira

“ME APAIXONO POR QUATRO HORAS – É O LIMITE”
ALESSANDRA, 31 ANOS, ANALISTA FINANCEIRA

OS LADOS DA QUESTÃO

Vantagens e desvantagens dos relacionamentos descompromissados

• As relações descompromissadas não incentivam o ciúme e a posse.
• Há a possibilidade de experimentar diferentes sensações, com pessoas de universos diferentes.
• Favorece a intensidade, pois é muito mais fácil se soltar numa relação em que você não tem preocupação nenhuma.
• Pode acontecer uma inversão: “Sexo é uma oferta tão fácil de se encontrar, que deixou de ser um atrativo”, diz a psicoterapeuta Carmita Abdo.
• Descrença nos relacionamentos sólidos, pois as pessoas se questionam se toda essa liberdade é boa ou ruim, principalmente pela questão da fidelidade, da exclusividade. Será que isso vai deixar de existir?
• Mesmo que seja só sexo casual, isso não significa que você não pode procurá-la no dia seguinte ou depois. Vocês podem aprimorar a transa ou até namorar.

SEXO DELIVERY

“Eu sempre faço sexo casual. E eu gosto de sexo pelo sexo, sem vínculo, apenas uma troca e tchau. Já fiz muito, sou desencanada. Tenho uma lista de amigos que basta ligar que eles vêm à minha casa. Não temos envolvimento nenhum, apenas sexo. Quando estou sozinha em casa, carente, eu telefono. Não quero namorar agora, quero pensar e focar no meu trabalho. Quando você se envolve acaba dispersando seus objetivos. Assim, tenho quem eu quero, na hora em que eu quero. Só me aproveito do momento e não tenho mais problemas.”
Giselly, 31, stylist

“TENHO UMA LISTA DE AMIGOS. É SÓ LIGAR E PRONTO!”
GISELLY, 31, STYLIST

ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE

Pelo estudo da vida sexual do brasileiro, no livro Descobrimento Sexual do Brasil, de Carmita Abdo, a idade de iniciação da vida sexual vem diminuindo nas últimas quatro décadas. As mulheres começavam a transar por volta dos 22 anos. Hoje, iniciam aos 15. O compromisso, no entanto, foi adiado. Antes, a mulher casava lá pelos 23 anos. Hoje, aos 28. O mesmo aconteceu com os homens. “Abriu-se uma lacuna entre o início da vida sexual e o casamento. E a mulher ficou sem ter com quem firmar compromisso”, explica Carmita. Por isso, também ficou difícil encontrar pessoas com o mesmo plano de vida. Hoje, jovens recebem essa informação de namoros rápidos desde o início de sua vida sexual. E assim eles lidam mais facilmente com essa fórmula.

COM MUITA AUTORIDADE

FRASES SOBRE SEXO CASUAL DITAS POR GRANDES MULHERES

“NÃO HOUVE PREÂMBULOS; NÃO DISSEMOS NOSSOS NOMES NEM CONTAMOS NOSSAS VIDAS. ACONTECEU O QUE ERA PARA ACONTECER, E ÀS SETE DA MANHÃ, QUANDO SAÍ, ELE DORMIA”
Danuza Leão em seu livro Quase Tudo, sobre uma noite de sexo casual que experimentou, num quarto de hotel, em Paris, no auge dos seus 70 anos. Sim, aos 70 anos.

“VOCÊ PODE MUITO BEM AMAR UMA PESSOA E IR PARA CAMA COM OUTRA. JÁ ACONTECEU COMIGO.”
Leila Diniz, atriz

“TRANSO COM MUITOS HOMENS, MAS NÃO É COM QUALQUER UM”,
Leila Diniz

“O QUE É VERDADEIRAMENTE IMORAL É TER DESISTIDO DE SI MESMA”
Clarice Lispector

“EU APENAS QUERIA VER COMO É ESTAR COM PESSOAS DIFERENTES. NÃO PENSE QUE UMA GAROTA É UMA VAGABUNDA SÓ PORQUE GOSTA DE SEXO”
Jessica Alba, atriz

“PASSEI A VIDA TODA PROCURANDO OS HOMENS CERTOS. MAS ME DIVERTI MUITO COM OS ERRADOS”
Cher, cantora

“GOSTARIA DE NAMORAR TAMBÉM O PRÍNCIPE WILLIAM. SERÁ QUE ALGUÉM PODE PROVIDENCIAR?”
Renée Zellweger, atriz

“FICO FELIZ PELAS PESSOAS QUE QUEREM SE CASAR, MAS ISSO NÃO É PARA MIM”
Charlize Theron, atriz, na revista Isto É Gente 324 (Outubro de 2005)

Consultoria: Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora do Projeto de Sexualidade da USP (ProSex), autora do livro Descobrimento Sexual do Brasil. (ed. Summus), e José Ângelo Gaiarsa, psicoterapeuta e autor de Meio Século de Psicoterapia Verbal e Corporal (ed. Summus).

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